Радіо Cova Da Beira (RCB)
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Uma rádio entre a beira e o mundo!
]R.C.B.- Rádio Cova da Beira, Cooperativa de Responsabilidade Limitada, foi constituída por escritura pública, lavrada no Cartório Notarial do Fundão, em 18 de Junho de 1986 e registada na Conservatória do Registo Comercial do Fundão sob o nº. 7 - Livro J1 - fls. 9 Vº. O Capital Social inicial era em finais de 1986 de apenas 54.000$00. Contudo, a adesão dos fundanenses ao projecto, levado a cabo, com sucesso, por um grupo de carolas, fizeram aumentar esse capital social para 1.912.500$00, no final de 1987. O capital social, depois da redenominaç... Дізнатися більше
Castelo Branco FM|100.0
+351275753800
[email protected]
Av. Dr. Alfredo Mendes Gil - Casa Gascão, Fundão, Portugal
http://www.rcb-radiocovadabeira.pt/
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hristelMúsica da moda.
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R.C.B.- Rádio Cova da Beira, Cooperativa de Responsabilidade Limitada, foi constituída por escritura pública, lavrada no Cartório Notarial do Fundão, em 18 de Junho de 1986 e registada na Conservatória do Registo Comercial do Fundão sob o nº. 7 - Livro J1 - fls. 9 Vº. O Capital Social inicial era em finais de 1986 de apenas 54.000$00.
Contudo, a adesão dos fundanenses ao projecto, levado a cabo, com sucesso, por um grupo de carolas, fizeram aumentar esse capital social para 1.912.500$00, no final de 1987. O capital social, depois da redenominação de escudos para euros, passou a ser de 106.870,00 euros, representados por 21.374 títulos. Os estúdios e serviços administrativos funcionaram em condições precárias, num sótão, onde também se encontravam instalados os emissores e as antenas de radiação. As emissões experimentais tiveram inicio no dia 29 de Novembro de 1986, emitidas na frequência 100.0 Mhz. Todavia, as emissões regulares, passaram a ser emitidas na frequência 93.0 Mhz e iniciaram-se no dia 10 de Janeiro de 1987, com quatro horas de programação diária: abertura às 20 e encerramento às 24 horas. Funcionou nesta frequência até Setembro de 1988, com 12 horas de programação diária. Neste mês, por determinação Governamental foram encerradas todas as estações de rádio, não licenciadas, entre as quais se encontrava a RCB - Rádio Cova da Beira. O projecto de licenciamento, apresentado na DGCS e no ICP - Instituto das Comunicações de Portugal, mereceu a devida aprovação, tendo sido concedido à RCB, pela Direcção Geral da Comunicação Social o Alvará de Radiodifusão Sonora em 22 de Maio de 1989, para emitir na frequência 92.5 Mhz na banda de FM Estéreo, com a potência de 27 dBW (500 w). A renovação de Alvará para o Exercício da Actividade de Radiodifusão, ocorreu no dia 9 de Fevereiro de 2000, pela deliberação nº. 198/2000 da Alta Autoridade para a Comunicação Social e publicação no Diário da República -II série, nº. 49 de 28 de Fevereiro. A 19 de Novembro de 1989 iniciaram-se as emissões regulares, com toda a situação legalizada, emitindo 16 horas de programação diária, das 08 às 24 horas, com seis blocos informativos. Face às exigências dos ouvintes, foi o horário alterado, sucessivamente: em Janeiro de 1990 para 17 horas; em Março para 18 horas. Finalmente em Setembro do mesmo ano a RCB - Rádio Cova da Beira, passou a emitir 24 horas diárias. A Rádio Cova da Beira emite através de emissores e retransmissores com ligação por Feixe Hertziano, pelo sistema Link. O Centro emissor principal e antenas encontram-se instalados num dos pontos mais altos da Serra da Gardunha, no sitio do Cavalinho, emitindo na frequência de 92.5 MHz. Desde o dia 21 de Novembro de 1997, encontra instalado o centro emissor do Açor, no sitio da Maunça, depois de ter sido concedida à Rádio Cova da Beira a instalação de uma Microcobertura, que passou a retransmitir na frequência 107.0 Mhz. Os cinco estúdios funcionam em sistema auto-operado: O Estúdio 1 para emissão. O estúdio 2 e 4 para emissão, trabalhos de produção e gravação. O estúdio 3, trabalhos de gravação e montagem de trabalhos de reportagem. O estúdio 5, gravação, montagem de trabalhos de reportagem e de apoio ao auditório.
Como tudo começou:
No Princípio Era o Sonho
No princípio parecia uma brincadeira. Apareceram aqueles dois lá em casa, cada um a querer falar mais que o outro, atropelando-se as palavras de tantos projectos e pormenores técnicos que a gente nem sabia se aquilo era devaneio ou maluquice. O Luis “Bolinhas” ainda vá lá, que lhe devia ter sabido bem o bichinho do microfone na discoteca… mas o Raul, aquele saltitão de sete terras e mil empregos, que diabo de apetites pela rádiopiratagem!
Queriam ajuda do jurista – estatutos para uma cooperativa, escrituras, registos, papeladas. Ou iam atrás de mais um destravado sonhador? Se iam, encontraram-no logo. Que era grande ideia, sim senhor, que era fácil de engendrar, que se arranjava casa, que se procurava dinheiro para os aparelhos, que talentos e amigos não faltariam, que não sei quê mais. Em menos de uma paragem para pensar, eram três a papaguear, cada um por cima das palavras dos outros. Um bloco de papel, uma esferográfica, e já o Tonô perguntava qual seria a minha ajuda. – “Acordar-vos aos três, está visto!”. Quando chegaram as quatro da manhã, discutia-se o nome. Rádio Cova da Beira, deliberação unânime. Tive a certeza de que a partir daquela noite nunca mais havia de se dormir coisa de jeito naquela casa. Parecia que era bruxa…
O que é que aquela gente trabalhou no dia seguinte, não sei. À hora do jantar já as notícias eram mais que muitas. O Bolinhas e o Raul tinham as opções de marcas e preços dos aparelhos (que aparelhos??), o Zeca Fontão tinha topado e já jorrava ideias por todos os poros, o Joaquim Miguel garantia a boa camaradagem de sempre. O Tonô, com aquela obsessão do tempo que voa, tinha falado com o Horácio, se um disse mata o outro logo esfolou – e não estiveram com meias: foram os dois ao banco abrir conta e fazer umas livranças que, está claro, eu tinha de assinar também. Não era aquilo prematuro? Que nada disso, que já havia oferta de um local, que estava já marcada data para os dois pais do projecto irem ao Porto à procura das máquinas. O pior é que foram mesmo, já munidos de cheques assinados pelos outros dois inconscientes – três dias depois!
Não houve tempo para esperar pelo Verão. Uma semana depois estavam reunidos os fundadores (os últimos, acho que os apanharam à falsa fé na esplanada do Cine…) e assinava-se a escritura no Notário. Houve tempo para um brinde e à mesa do café apareceram os primeiros desenhos do símbolo: a irreverente pera com o microfone na mão e as ondas hertzianas a saírem do pedúnculo, sobre a cor verde do concelho; os números da frequência ainda eram incertos mas o nome do Fundão vinha em grande – obra do José Seco, mais um amigo a quem se pediu ajuda. O nome da estação já era, na boca de todos, apenas as iniciais: RCB. Parecia-me ouvi-los já “no ar”.
Foram umas “férias” de loucos. Lá por casa circulavam catálogos, desenhos, títulos para programas. Foram à tropa roubar o Tomás aos serviços de telecomunicações (e o Senhor Capitão deixou-se levar na onda), José Chaparra faria uma antena ainda melhor do que a que já tinha feito para a Rádio dos Enxames, havia topógrafos, faziam-se visitas à Gardunha, ao Cavalinho e à Serra da Cortiçada, parecia que andava tudo num vendaval. Num dia iam a Lisboa ver as grandes emissoras e na noite seguinte aperfeiçoavam-se os projectos; num dia contactavam-se umas empresas e na noite seguinte faziam-se minutas para contratos de publicidade; num dia vinha da tipografia uma caixa de títulos das acções da cooperativa e na noite seguinte já se guardavam num pequeno cofre os trocos recolhidos na rua com a venda das acções. Mobilizava-se toda a gente para dar ideias e ainda-bem-não era andar, andar, andar…
Um dia, aproveitei virmos de viagem (nunca havia tempo, se não fosse assim) para perguntar se os riscos estavam bem medidos, se o passo não estava a ser maior do que a passada. Bela ocasião para tal pergunta… Era preciso chegar depressa, porque nessa mesma noite ia por-se no ar a primeira emissão experimental. Chegámos ao Fundão a tempo de apressar um beijo de boas noites aos miúdos. No éter do Loteamento Rebordão já se ouvia: “Boa noite, Fundão, escutam a Rádio Cova da Beira”. Houve abraços, gritaria, risos pueris – e até lágrimas. Abençoada noite!
Falava-se do Fundão e o Fundão ouvia. No estúdio, as mesas de mistura, a sala técnica, a redacção, os mil e um cabos, tudo muito bem ordenado, mal escondiam os dias e noites de trabalho de um autêntico enxame de boas vontades. O Tomás tratava as questões da engenharia por tu, já o sabíamos. O Raul dormia à volta dos ferros de soldar, o Supico tinha sido arregimentado para a electrónica e mais os sete-ofícios que ele tão bem conhecia, o Luis Bolinhas tanto era “director” a dar ordens como fazia de servente a tudo o que urgia. O Tonô, o Zeca e o Miguel funcionavam em trio como se toda a vida pensassem a uma só cabeça. Perguntava-me onde estava o “núcleo duro” daquele projecto, mas a resposta era aquele organizado turbilhão de ideias e vontades, tudo a fluir para o mesmo lado. Faziam-se reuniões, marcavam-se entrevistas a projectos de programas, revelava-se o João Saraiva com planos de programação impecáveis, tinha-se falado com o Fernando Paulouro para assegurar a primeira redacção. Apareceu a primeira grelha de programas: quatro horas por noite na primeira semana, abrir a emissão mais cedo logo na seguinte, cobrir toda a tarde antes de se completar o primeiro mês. E era gente nova a chegar… E era a população a aplaudir e a pedir mais.
A RCB estava no ar. Música e palavras pareciam surgir do nada e de todos os lados, minuto a minuto, hora a hora, e os dias preenchiam-se e as semanas completavam-se – ininterruptamente. Como é possível dizer agora quem foram os primeiros? Veio a Música Clássica, pelas mãos do Tó Manel e do João Sabino. Veio o Jazz, da discografia e do labor do Luis Seco e do José Manuel Neves Costa. Veio o Desporto, pela carolice do Rui Corsino, do Zé Quim, do Leal Martins, do Zé Miranda, do Rui Quelhas. Veio a Cultura, pela palavra das lendas e tradições contadas por Antonieta Garcia, pelos “Livros Falantes” abertos por Fernanda Sampaio, pela poesia das “Margens” talhadas pela voz de Fátima Freitas, e vieram África e o “Brasil com z”, e as recordações de “60-70”, e a qualidade do “Lado B”, e a juventude da “Associação de Estudantes”, e a cultura da emigração com a programação de língua e história francesas. O Tonô arrancava com a grande informação, o Zeca Fontão dava o exemplo de tudo o que era criatividade, o Joaquim Miguel desdobrava-se entre a organização, o apoio a todos e a sua “perninha” de cinema e música séria. A Fátima (a nossa Fatinha) passou da poesia para o jornalismo, fazendo-se a primeira trabalhadora da Estação; a Leninha veio a seguir – e as duas, mais o Mário Antunes e o Fernando Teófilo, asseguraram os noticiários à hora certa. Os técnicos andavam pelos telhados das redondezas, recebidos amistosamente pelos vizinhos a quem o som da RCB entrava pelo meio dos programas de televisão – e afinavam-se os megahertz da frequência. Quando a emissão fechava, era um estúdio a abarrotar: os que acabavam o programa e ficavam, os que vinham preparar o dia seguinte, os que vinham só para ver o que faltava… e a população que vinha ver e apoiar.
No dia em que os ouvi dizer que a emissão preenchia todo o dia e cobria todo o concelho, perguntei: “Está feito?”. Um deles respondeu: “Está pronto para começar”. Estava feito o tempo do começo. Talvez só o tempo do sonho. Daquele sonho em que, como ensina o alquimista poema, “o mundo pula e avança”.
Contudo, a adesão dos fundanenses ao projecto, levado a cabo, com sucesso, por um grupo de carolas, fizeram aumentar esse capital social para 1.912.500$00, no final de 1987. O capital social, depois da redenominação de escudos para euros, passou a ser de 106.870,00 euros, representados por 21.374 títulos. Os estúdios e serviços administrativos funcionaram em condições precárias, num sótão, onde também se encontravam instalados os emissores e as antenas de radiação. As emissões experimentais tiveram inicio no dia 29 de Novembro de 1986, emitidas na frequência 100.0 Mhz. Todavia, as emissões regulares, passaram a ser emitidas na frequência 93.0 Mhz e iniciaram-se no dia 10 de Janeiro de 1987, com quatro horas de programação diária: abertura às 20 e encerramento às 24 horas. Funcionou nesta frequência até Setembro de 1988, com 12 horas de programação diária. Neste mês, por determinação Governamental foram encerradas todas as estações de rádio, não licenciadas, entre as quais se encontrava a RCB - Rádio Cova da Beira. O projecto de licenciamento, apresentado na DGCS e no ICP - Instituto das Comunicações de Portugal, mereceu a devida aprovação, tendo sido concedido à RCB, pela Direcção Geral da Comunicação Social o Alvará de Radiodifusão Sonora em 22 de Maio de 1989, para emitir na frequência 92.5 Mhz na banda de FM Estéreo, com a potência de 27 dBW (500 w). A renovação de Alvará para o Exercício da Actividade de Radiodifusão, ocorreu no dia 9 de Fevereiro de 2000, pela deliberação nº. 198/2000 da Alta Autoridade para a Comunicação Social e publicação no Diário da República -II série, nº. 49 de 28 de Fevereiro. A 19 de Novembro de 1989 iniciaram-se as emissões regulares, com toda a situação legalizada, emitindo 16 horas de programação diária, das 08 às 24 horas, com seis blocos informativos. Face às exigências dos ouvintes, foi o horário alterado, sucessivamente: em Janeiro de 1990 para 17 horas; em Março para 18 horas. Finalmente em Setembro do mesmo ano a RCB - Rádio Cova da Beira, passou a emitir 24 horas diárias. A Rádio Cova da Beira emite através de emissores e retransmissores com ligação por Feixe Hertziano, pelo sistema Link. O Centro emissor principal e antenas encontram-se instalados num dos pontos mais altos da Serra da Gardunha, no sitio do Cavalinho, emitindo na frequência de 92.5 MHz. Desde o dia 21 de Novembro de 1997, encontra instalado o centro emissor do Açor, no sitio da Maunça, depois de ter sido concedida à Rádio Cova da Beira a instalação de uma Microcobertura, que passou a retransmitir na frequência 107.0 Mhz. Os cinco estúdios funcionam em sistema auto-operado: O Estúdio 1 para emissão. O estúdio 2 e 4 para emissão, trabalhos de produção e gravação. O estúdio 3, trabalhos de gravação e montagem de trabalhos de reportagem. O estúdio 5, gravação, montagem de trabalhos de reportagem e de apoio ao auditório.
Como tudo começou:
No Princípio Era o Sonho
No princípio parecia uma brincadeira. Apareceram aqueles dois lá em casa, cada um a querer falar mais que o outro, atropelando-se as palavras de tantos projectos e pormenores técnicos que a gente nem sabia se aquilo era devaneio ou maluquice. O Luis “Bolinhas” ainda vá lá, que lhe devia ter sabido bem o bichinho do microfone na discoteca… mas o Raul, aquele saltitão de sete terras e mil empregos, que diabo de apetites pela rádiopiratagem!
Queriam ajuda do jurista – estatutos para uma cooperativa, escrituras, registos, papeladas. Ou iam atrás de mais um destravado sonhador? Se iam, encontraram-no logo. Que era grande ideia, sim senhor, que era fácil de engendrar, que se arranjava casa, que se procurava dinheiro para os aparelhos, que talentos e amigos não faltariam, que não sei quê mais. Em menos de uma paragem para pensar, eram três a papaguear, cada um por cima das palavras dos outros. Um bloco de papel, uma esferográfica, e já o Tonô perguntava qual seria a minha ajuda. – “Acordar-vos aos três, está visto!”. Quando chegaram as quatro da manhã, discutia-se o nome. Rádio Cova da Beira, deliberação unânime. Tive a certeza de que a partir daquela noite nunca mais havia de se dormir coisa de jeito naquela casa. Parecia que era bruxa…
O que é que aquela gente trabalhou no dia seguinte, não sei. À hora do jantar já as notícias eram mais que muitas. O Bolinhas e o Raul tinham as opções de marcas e preços dos aparelhos (que aparelhos??), o Zeca Fontão tinha topado e já jorrava ideias por todos os poros, o Joaquim Miguel garantia a boa camaradagem de sempre. O Tonô, com aquela obsessão do tempo que voa, tinha falado com o Horácio, se um disse mata o outro logo esfolou – e não estiveram com meias: foram os dois ao banco abrir conta e fazer umas livranças que, está claro, eu tinha de assinar também. Não era aquilo prematuro? Que nada disso, que já havia oferta de um local, que estava já marcada data para os dois pais do projecto irem ao Porto à procura das máquinas. O pior é que foram mesmo, já munidos de cheques assinados pelos outros dois inconscientes – três dias depois!
Não houve tempo para esperar pelo Verão. Uma semana depois estavam reunidos os fundadores (os últimos, acho que os apanharam à falsa fé na esplanada do Cine…) e assinava-se a escritura no Notário. Houve tempo para um brinde e à mesa do café apareceram os primeiros desenhos do símbolo: a irreverente pera com o microfone na mão e as ondas hertzianas a saírem do pedúnculo, sobre a cor verde do concelho; os números da frequência ainda eram incertos mas o nome do Fundão vinha em grande – obra do José Seco, mais um amigo a quem se pediu ajuda. O nome da estação já era, na boca de todos, apenas as iniciais: RCB. Parecia-me ouvi-los já “no ar”.
Foram umas “férias” de loucos. Lá por casa circulavam catálogos, desenhos, títulos para programas. Foram à tropa roubar o Tomás aos serviços de telecomunicações (e o Senhor Capitão deixou-se levar na onda), José Chaparra faria uma antena ainda melhor do que a que já tinha feito para a Rádio dos Enxames, havia topógrafos, faziam-se visitas à Gardunha, ao Cavalinho e à Serra da Cortiçada, parecia que andava tudo num vendaval. Num dia iam a Lisboa ver as grandes emissoras e na noite seguinte aperfeiçoavam-se os projectos; num dia contactavam-se umas empresas e na noite seguinte faziam-se minutas para contratos de publicidade; num dia vinha da tipografia uma caixa de títulos das acções da cooperativa e na noite seguinte já se guardavam num pequeno cofre os trocos recolhidos na rua com a venda das acções. Mobilizava-se toda a gente para dar ideias e ainda-bem-não era andar, andar, andar…
Um dia, aproveitei virmos de viagem (nunca havia tempo, se não fosse assim) para perguntar se os riscos estavam bem medidos, se o passo não estava a ser maior do que a passada. Bela ocasião para tal pergunta… Era preciso chegar depressa, porque nessa mesma noite ia por-se no ar a primeira emissão experimental. Chegámos ao Fundão a tempo de apressar um beijo de boas noites aos miúdos. No éter do Loteamento Rebordão já se ouvia: “Boa noite, Fundão, escutam a Rádio Cova da Beira”. Houve abraços, gritaria, risos pueris – e até lágrimas. Abençoada noite!
Falava-se do Fundão e o Fundão ouvia. No estúdio, as mesas de mistura, a sala técnica, a redacção, os mil e um cabos, tudo muito bem ordenado, mal escondiam os dias e noites de trabalho de um autêntico enxame de boas vontades. O Tomás tratava as questões da engenharia por tu, já o sabíamos. O Raul dormia à volta dos ferros de soldar, o Supico tinha sido arregimentado para a electrónica e mais os sete-ofícios que ele tão bem conhecia, o Luis Bolinhas tanto era “director” a dar ordens como fazia de servente a tudo o que urgia. O Tonô, o Zeca e o Miguel funcionavam em trio como se toda a vida pensassem a uma só cabeça. Perguntava-me onde estava o “núcleo duro” daquele projecto, mas a resposta era aquele organizado turbilhão de ideias e vontades, tudo a fluir para o mesmo lado. Faziam-se reuniões, marcavam-se entrevistas a projectos de programas, revelava-se o João Saraiva com planos de programação impecáveis, tinha-se falado com o Fernando Paulouro para assegurar a primeira redacção. Apareceu a primeira grelha de programas: quatro horas por noite na primeira semana, abrir a emissão mais cedo logo na seguinte, cobrir toda a tarde antes de se completar o primeiro mês. E era gente nova a chegar… E era a população a aplaudir e a pedir mais.
A RCB estava no ar. Música e palavras pareciam surgir do nada e de todos os lados, minuto a minuto, hora a hora, e os dias preenchiam-se e as semanas completavam-se – ininterruptamente. Como é possível dizer agora quem foram os primeiros? Veio a Música Clássica, pelas mãos do Tó Manel e do João Sabino. Veio o Jazz, da discografia e do labor do Luis Seco e do José Manuel Neves Costa. Veio o Desporto, pela carolice do Rui Corsino, do Zé Quim, do Leal Martins, do Zé Miranda, do Rui Quelhas. Veio a Cultura, pela palavra das lendas e tradições contadas por Antonieta Garcia, pelos “Livros Falantes” abertos por Fernanda Sampaio, pela poesia das “Margens” talhadas pela voz de Fátima Freitas, e vieram África e o “Brasil com z”, e as recordações de “60-70”, e a qualidade do “Lado B”, e a juventude da “Associação de Estudantes”, e a cultura da emigração com a programação de língua e história francesas. O Tonô arrancava com a grande informação, o Zeca Fontão dava o exemplo de tudo o que era criatividade, o Joaquim Miguel desdobrava-se entre a organização, o apoio a todos e a sua “perninha” de cinema e música séria. A Fátima (a nossa Fatinha) passou da poesia para o jornalismo, fazendo-se a primeira trabalhadora da Estação; a Leninha veio a seguir – e as duas, mais o Mário Antunes e o Fernando Teófilo, asseguraram os noticiários à hora certa. Os técnicos andavam pelos telhados das redondezas, recebidos amistosamente pelos vizinhos a quem o som da RCB entrava pelo meio dos programas de televisão – e afinavam-se os megahertz da frequência. Quando a emissão fechava, era um estúdio a abarrotar: os que acabavam o programa e ficavam, os que vinham preparar o dia seguinte, os que vinham só para ver o que faltava… e a população que vinha ver e apoiar.
No dia em que os ouvi dizer que a emissão preenchia todo o dia e cobria todo o concelho, perguntei: “Está feito?”. Um deles respondeu: “Está pronto para começar”. Estava feito o tempo do começo. Talvez só o tempo do sonho. Daquele sonho em que, como ensina o alquimista poema, “o mundo pula e avança”.
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